
Cuca, treinador do Atlético-MG, discutiu seu caso de condenação por violência sexual na Suíça, que foi posteriormente anulado em janeiro de 2024.
Cuca expressou alguma insatisfação com o resultado do caso. Ele e sua equipe jurídica desejavam um novo julgamento, acreditando que uma absolvição seria o veredicto final.
“Eu não poupei esforços. Reuni-me com meu representante, contratei advogados brasileiros e internacionais. Meu objetivo não era apenas anular o processo, mas sim buscar um novo julgamento. ‘Qual a chance de absolvição, doutora?’ ‘100%.’ ‘Então, vamos reabrir.’ Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, e o que conseguimos foi uma anulação que encerrou o processo, mas ainda assim, sinto que poderia ter lidado com isso de maneira mais adequada, entende?”, comentou.
O treinador se arrepende de não ter dado a devida atenção ao caso anteriormente, não apenas por causa da recente repercussão, que resultou em críticas dos torcedores nas redes sociais.
“O incidente ocorreu em 1987, mas ficou esquecido até ressurgir em 2019, 2020, e com mais força após a pandemia. Eu devia ter tratado isso melhor naquela época, talvez tivesse conseguido um julgamento. Nunca recebi notificação sobre o julgamento, nem tive representação legal lá, e era isso que tentava explicar”, ele acrescentou.
Cuca também mencionou a importância de discutir o assunto. “É bom falar sobre isso. As pessoas acham que evito o tema, mas não tenho problema em abordá-lo. Minha compreensão mudou depois da experiência no Corinthians, coisas que não entendia antes”, afirmou ao iniciar a discussão.
Corinthians
Cuca mencionou o Corinthians, já que durante sua permanência no clube em 2023, o assunto ganhou destaque na mídia, com forte oposição dos torcedores à sua contratação. Sua passagem pelo clube durou apenas dois jogos, e ele optou por sair para dar a devida atenção ao caso.
“Poderia ter me preparado melhor para abordar o assunto, mas não o fiz. Foi um dia muito difícil. Após o jogo, mesmo tendo classificado a equipe, decidi sair para resolver minha vida fora de campo”, relembrou, referindo-se ao jogo contra o Remo pela Copa do Brasil, quando o Corinthians avançou nos pênaltis.
Após essa partida, Cuca pediu demissão e, quase nove meses depois, obteve a anulação do processo que gerou as manifestações.
Entenda o caso de abuso sexual
Em 1987, enquanto jogador do Grêmio, Cuca participou de uma excursão à Europa. Na Suíça, ele e outros três jogadores, Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, foram acusados de relações sexuais sem consentimento com Sandra Pfäffli, de 13 anos na época. Detidos, foram liberados após um mês.
O Grêmio nomeou um advogado para defender Cuca e outros dois, mas ele abandonou a defesa um ano antes do julgamento. Fernando Castoldi teve outro advogado.
Em 1989, Cuca, Eduardo e Henrique foram condenados a 15 meses de prisão e multa, sem representação legal no julgamento, que teve um promotor de acusação. Fernando foi absolvido por ser considerado apenas cúmplice.
Anulação em 2024
Após deixar o Corinthians, Cuca contratou uma advogada que pediu a íntegra do processo para construir a defesa e solicitar a reabertura do caso.
Em janeiro de 2024, a juíza Bettina Bochsler aceitou a alegação de que Cuca foi condenado sem representação legal, garantindo-lhe um novo julgamento.
No entanto, as autoridades suíças afirmaram que isso não seria possível, pois o crime já estava prescrito. O Ministério Público sugeriu então a anulação da pena e o encerramento do processo. Cuca ainda recebeu uma indenização de 9.500 francos do Estado suíço.
Desejo de mudança
A anulação do processo, embora não seja uma absolvição, permitiu que Cuca encerrasse o caso e olhasse para o futuro, não apenas no futebol. Ele retomou sua carreira em março de 2024, assumindo o Athletico-PR, e decidiu apoiar causas feministas, usando sua visibilidade para se posicionar melhor sobre o assunto.
“Agora, sinto-me na obrigação, como homem, pai e avô, de fazer algo pela causa, de lutar mais pelas mulheres”, afirmou.
Cuca pretende levar essa luta para o Atlético-MG e o futebol mineiro. Ele recordou que, durante sua passagem pelo Furacão, promoveu um evento com palestras para as categorias de base dos principais clubes de Curitiba, incentivando o diálogo entre os jovens jogadores.
“Foi muito legal, discutimos o tema, e, no meio de risadas, cada um desabafando com outro, foi muito bacana. Quero fazer mais disso, com o América-MG, Cruzeiro, Atlético-MG, para nivelar a juventude. […] São ações que, como homem, posso fazer para servir de exemplo para outros, promovendo uma sociedade mais justa, com equidade de gênero”, concluiu o treinador.



